Folheava ontem o jornal diário “I” - www.ionline.pt - já hoje uma das referências noticiosas e de abalizada opinião no nosso país, quando me chamou à atenção, na secção: “D Mais // Música” um trabalho sobre o novo disco de Tiago Pereira, acima referenciado, que contou com a ajuda de: “Não me importava morrer se houvesse guitarras no céu produzido pela Direcção Regional da Cultura do Governo Regional dos Açores (faixa 10).”
Ora essa faixa que no presente disco toma o número 22, refere-se nem mais nem menos aos amigos José e Manuel Canarinho, com a sua interpretação em instrumentos de corda (violino-rabeca e viola da terra) da Chamarrita do Caracol enriquecida pela voz bem timbrada e “escorreita” do Manuel Canarinho, e que no referido site pode ser já ouvida. Aliás convém aqui trazer-vos o perfil do autor deste trabalho discográfico:
“Dêem-me duas velhinhas, eu dou-vos o universo” é a mais recente obra do realizador/visualista Tiago Pereira, que desta vez assume o papel de curador/ autor, num disco de recolhas musicais portuguesas editado pela Optimus Discos. São 26 músicas do Norte ao Sul do País e Ilhas, gravadas no período entre Março de 2011 e Novembro de 2012 para diversos projectos audiovisuais do autor. O nome do disco surge de uma frase do artista e pensador Paul D Miller a.k.a Dj Spooky; "Give me two records and I will give you the universe” e representa uma espécie de manifesto/motivação para o autor que se posiciona um pouco entre o Alan Lomax e o Dj Spooky; defendendo que os arquivos e as recolhas são importantes para que uma comunidade se conheça, “Um povo sem memória não existe”, mas também que esses arquivos têm de existir para que se trabalhe a partir deles, remisturando-os, dando-lhes outros significados e contextos. (…) O disco não contem só gravações de velhinhas, na maior parte dos casos são até jovens que apresentam aqui as suas versões do que assimilaram através do processo da tradição oral das raízes musicais portuguesas, (…) É a primeira vez que um disco deste género sai para o mercado pop e por isso mesmo tem uma capa pop e uma atitude pop! É um grito de guerra para chegar a outros públicos e a outras pessoas.”
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Aqui longe, ouvir ou ler estas referências elogiosas à nossa cultura popular açoriana e picoense, são momentos únicos, pois contribuem imenso para esbater a natural solidão.
Nesta despretensiosa homenagem aos já afamados Canarinhos-músicos, englobo também tantos outros que vão caindo no esquecimento e que por essa ilha à roda animaram folgas de terreiro e folgas-serões de inverno e são tantos entre apelidos e nomes: Bogas, Constanças, Sabinas, Cabeleiras, Mirandas, Neves e Pereiras, Pinheiros e Sousas, Soares e Goulart, Azevedos e Gonçalves, Simas e Machados, Vieiras e Rosas, e mais e mais…
“Um povo sem memória não existe” por isso mesmo nós existimos como povo, porque temos memória e bem viva que está essa memória de todos eles – anónimos mas exímios animadores das Folgas da nossa ilha à roda.
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